quarta-feira, 27 de março de 2013

Narciso e o espelho


O bichinho da vaidade costuma morder pessoas com certas características, como as narcisistas, aquela que presta culto a si mesmo.
Esse culto ao ego acaba por cegar o sujeito, não consegue enxergar em que momento suas ações afetam os outros e quando é confrontado não dá muita importância, considerando o outro como melindroso, costuma responder: não faça drama.
Este só reconhecerá o outro quando par...a sua própria utilidade, quando o outro reforça suas qualidades e aplaude seu comportamento, caso contrário é deixado de lado, afinal o que importa é unicamente seu mundinho: seus interesses, suas ideias, suas crenças etc.
Além de cego, fica surdo também, não ouve nada além do eco de sua voz, isto é, qualquer ideia diferente da sua é logo descartada e até discriminada. Já o inverso, alguém que repete seu discurso é logo admirado, como uma forma de espelho, adorando a si mesmo. “Narciso acha feio o que não é espelho” cantava Caetano.
Entre cegueira e surdez, Narciso vai sendo consumido pelo bichinho da vaidade, alimentando-o de elogios, aplausos e um senso de superioridade em relação aos que o cercam. Uma vez que esse bichinho é muito bem alimentado, ele cresce e se transforma no monstro da soberba que possui diversas formas: prepotência intelectual, má educação, preconceito e discriminação.
Quando se fala em preconceito e discriminação logo se pensa nos clássicos: o racismo, a xenofobia e a homofobia, óbvio demais.
Existe também o preconceito ao contrário, como assim?
Basta alguém falar algo diferente da maioria que já é taxado de preconceituoso, sem ao menos ter a chance de dizer o motivo, então o preconceito parte de uma suposição daquele que se diz não preconceituoso, inverte-se os papéis e faz se um PRÉ-CONCEITO sobre o outro, sem pensar que tal posição pode ser fruto de uma experiência individualizada.
 Por exemplo, seu eu falar que não gosto de determinada pessoa, sendo esta negra, logo serei chamada de racista, quando existe a possibilidade de não gostar dessa pessoa em questão (o indivíduo) por motivos pessoais, pode ser que esta pessoa tenha me ferido alguma vez ou algum outro motivo que se refere unicamente a esta pessoa.
O senso de superioridade faz crer que o preconceituoso é sempre o outro, quando eu discrimino sem conhecer os fatos, o pré conceito passa a ser meu.
Rever conceitos e pré conceitos é sempre difícil, no entanto os seres humanos convivem no sentido de nos espelharmos, isto é, nos enxergamos um no outro. O que dói no outro dói em mim também. O que me alegra, alegra o outro também.
Que possamos ser espelhos no melhor sentido da palavra, se enxergar e enxergar o outro na mesma medida.
Afinal somos feitos dos mesmos ingredientes: esperanças e angústias.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Humanidade


Os primeiros meses do ano foram de más noticias, noticias de mortes, acidentes e tantas outras coisas que me chocaram. A tragédia de Santa Maria me arrasou, o braço arrancado do ciclista causou um misto de indignação e compaixão.
Ao pensar na trajetória do ser humano, penso quando foi que as pessoas deixaram de ser humanas? Quando foi que a vida perdeu seu valor? Como foi que a crueldade tomou o lugar que tem hoje?
As pessoas estão morrendo todos os dias, não só corporalmente mas também espiritualmente. Estão sendo estranguladas pelo hedonismo, pela satisfação imediata. Resultados a curto prazo estão tomando o lugar da construção tijolo-a tijolo que esculpe uma humanidade genuína, que reflete o Amor.
A geração “fast food”, perdeu o gosto pelo difícil, o “quero tudo e quero agora” é o cartão de visita da vez.
As consequências são danosas, tudo parece tão fácil que perde-se o valor das coisas, nada mais é eterno, tudo é descartável e substituível: bens materiais, relacionamentos, carreira e até mesmo a vida (dos outros).
Temos como grandes prejuízos a falta de empatia (o colocar-se no lugar do outro) e de um viver significativo.
Esse tipo de vida se reflete em atitudes inconsequentes, com prejuízos coletivos e pessoais, sintomas de um estilo de vida descartável e egoísta.
A pessoa que é tragada pela falta de sentido, corre na estrada da vaidade, busca seu valor no trabalho, no sucesso, no conhecimento e diversas outras coisas que proporcionam a ilusão de se estar vivendo. Muitas vezes são engolidas pela própria ilusão e vivem na certeza que nada lhes faltam, tapam o buraco da falta de sentido por muito tempo, às vezes por toda uma vida.
Até o momento em que percebe sua própria vida sem valor algum, quando as dores da alma chegam, espetam e sangram. Alguns fingem não ver suas mazelas. Não admitem a necessidade de um cuidado especial. Talvez por nunca terem sido cuidadas ou por em algum momento sentirem-se totalmente abandonadas.
Crianças que tiveram suas infâncias roubadas por abusos, trabalho precoce, drogas; que viveram em um lar disfuncional (não foram amadas como deveriam), em sua maioria tornam-se adultos famintos de uma dignidade que lhes foi negada. Adultos que tiveram dores sobre humanas anseiam por uma vida limpa, sem traumas.
Vivemos uma chacina coletiva, nos matando mutuamente.
Açoitamo-nos por meio da exclusão do diferente, do preconceito, do escárnio, da indiferença e das várias facetas da superficialidade do mundo contemporâneo.
Tentar estancar o sangue, buscando socorro no efêmero é uma insanidade, é o retorno ao descartável.
O ser humano tem um desejo profundo e legítimo por amor e conexão, isso é o que nos faz humanos.
A única forma de aprender a sermos humanos é se espelhar Naquele que é o protótipo perfeito de humanidade, o Amor que se fez carne, o Eterno.

Porque "Existe no homem um vazio do tamanho de Deus." ( Fiodor Dostoiévski)

terça-feira, 12 de março de 2013

Rede Social


     A rede social é de uma diversidade tal qual fora dela, considero essa pluralidade de ideias enriquecedoras. Temas de todos os tipos são publicados diariamente, cultura, arte, tecnologia, entre outras infinidades de assuntos. Existem os polêmicos como futebol, politica e religião que causam o maior alvoroço. Esses assuntos são motivos de ofensas e até de exclusões de amigos. Quando as ideias divergem muito , os comentários viram um cabo de guerra, em que o importante é mostrar como sua posição é a mais esclarecida e a de seu interlocutor está equivocada. Ao se deixar envolver por essas batalhas ideológicas, muitos se esquecem que em cada publicação ou comentário existe uma pessoa que não vai mudar sua forma de pensar tão rápido por causa de algumas linhas em uma rede social, não importa quais argumentos forem usados. Somos seres que formamos nosso conjunto de crenças e posições acerca do mundo desde pequenos, foram necessários anos para se formar uma ideologia, e não é uma postagem ou comentário que irá mudar de uma hora pra outra. E quantas vezes nessas discussões acaloradas até nos esquecemos do assunto que gerou a discussão?
     O que as pessoas escrevem deveriam servir para ampliar nossos horizontes, enxergar maneiras diferentes sobre um mesmo assunto, e não uma oportunidade de mostrar como posições ideológicas são mais importantes que pessoas e relacionamentos.
     Escrevo isso após presenciar pessoas discutindo “o sexo dos anjos” todos os dias, discussões pouco frutíferas, assim creio.
     O que acabo de escrever vai passar pelas vivências de cada pessoa que lê, cada um vai interpretar segundo sua visão de mundo, cada percepção é única. Por respeitar essa individualidade e ao mesmo tempo a diversidade de opiniões, não entro em debates com a intenção de mudar a opinião de ninguém, mas também considero válido quem expõe suas ideias, afinal são justamente as opiniões diferentes da minha que amplia meu universo.
     O que defendo mesmo é uma relação virtual sadia frente a divergências de ideologias sejam de que natureza for.

Gente ácida



Vou fazer uma confissão: tenho problemas com gente ácida
Gente ácida vive fazendo piadas de mau gosto, se considera um comediante quando na verdade é um frustrado
Gente ácida tem o coração cheio de mágoas e sai metralhando quem encontra pela frente
Gente ácida tem uma postura maliciosa diante de tudo e todos
Destila veneno em forma de escárnio, tem uma alegria boba
Gente ácida tem como arma um humor desrespeitoso, ferindo os desavisados
Gente ácida desqualifica a Imago Dei
Zomba do sagrado sem o menor pudor
Gente ácida é refém de seu coração de pedra
Recusa-se a ser liberto pelo Amor
Alguns podem chamar isso de inocência
Mas prefiro ser Poliana do que ser ácida

sexta-feira, 8 de março de 2013

Meritocracia


Ouço diversas vezes pessoas dizendo: " eu não merecia isso" quando algo ruim acontece ou "eu mereço aquilo" no sentido de obter algo bom.
O conceito de merecimento permeia toda a nossa sociedade em várias esferas; na política, nas relações socias e de trabalho,nas relações afetivas, nos estudos etc.
A meritocracia é uma praga, pois quando a pessoa se acha no direito de receber algo bom ou de não receber algo ruim, deixa de perceber diversas coisas implícitas nas circunstâncias da vida. No caso de achar que tem o direito de receber algo bom, ela exclui a gratidão do seu coração, afinal se é meu por direito e merecimento, porque ficar grato? Ou... não faz mais que a obrigação! Como o adolescente que diz ao pais: " eu não pedi pra nascer" reivindicando aos pais algo que provavelmente não lhe é dado.
No caso de circunstâncias ruins, o mal agradecido faz com que as coisas se tornem ainda piores com a sua autocomiseração: "porque comigo, eu não mereço isso." Se considera vítima da vida, deixando de perceber que em muitas situações ruins existem oportunidades a serem exploradas, mas a meritocracia o cegou e coisas boas que poderiam surgir de coisas ruins não são concretizadas.
Enquanto os óculos da meritocracia não forem arrancados, a visão continuará distorcida.
A vida não faz o menor sentido segundo o conceito de merecer/não merecer.
O sol nasce pra todos, para os bons e maus.
A chuva cai sobre justos e injustos.

Dia da mulher


Dia da Mulher, mais uma estratégia de mercado, beneficiando o comércio e a indústria, que normalmente usa como argumento a beleza para fisgar suas vítimas no consumismo e futilidade.
A definição de beleza apresentada pela cultura vigente incentiva a mulher a se produzir, ficar deslumbrante com sua maquiagem de ultima geração e roupas de grife.
A mídia incentiva uma beleza superficial, transitória, que impressiona as pessoas, principalmente os homens. Quando uma mulher atraente passa, as mulheres admiram e os homens torcem o pescoço. Essa beleza provoca uma impressão momentânea e passageira.
Muita maquiagem e pouca roupa, a combinação perfeita para sensualidade, mas a verdadeira beleza não necessita disso para causar admiração, isso serve para atrair homens que ainda não descobriram a beleza que é eterna.
A beleza que o tempo não apaga, uma beleza que continua firme quando a carne fica flácida.
Uma beleza de tão grande valor que não se consegue separar em partes, não se define se é o rosto, o sorriso, os cabelos, porque a beleza real está contida no todo.
Uma beleza que causa um impacto duradouro na vida das pessoas que a cercam, deixa uma marca indelével naqueles que a conheceram.
Não quero dizer que devemos ser negligentes com a aparência , a beleza externa, mas devemos sempre nos lembrar de que quando as rugas estiverem evidentes, os cabelos brancos forem maioria, e nossa disposição física tiver caído drasticamente, o que vai restar e realmente contar é a beleza da alma, aquilo que mora em nosso coração.
Um caráter lapidado, um coração generoso, um jeito alegre de se viver são marcas da beleza interior, a beleza eterna.


quinta-feira, 7 de março de 2013

Criança espiritual



Lembro-me certa vez em minha infância de uma amiguinha que veio passar férias comigo em São Paulo, ela morava no interior e na cidade dela não havia praia. Ficava sempre feliz por estar em São Paulo, já que essa era a única oportunidade de ver o mar.
Minha família a levava para passear em diversos lugares, num certo dia estávamos numa grande avenida de São Paulo que era rota para o litoral, o carro a nossa frente levava no porta malas boias, cadeiras de praia, esteira, entre outros apetrechos próprios de quem vai ao litoral.
Meu pai falou: Olha, eles estão indo para a praia.
Minha amiguinha fez uma cara de incredulidade e perguntou: como você sabe tio?
Todos rimos, para nós parecia tão óbvio, mas para ela parecia que meu pai era um vidente. Ela não tinha a experiência de morar em São Paulo e tão próximo da praia , por isso não conseguia identificar um veículo rumo ao litoral.
É assim também com crianças espirituais, quem só conhece o mundo material, faz perguntas do tipo: Como você pode ter certeza disso?
Não consegue discernir as coisas, tem dificuldade em identificar conceitos que contrariam os princípios de Deus.
Não sou mais criança e também não posso mais rir de quem ainda não enxerga o que para mim é cristalino, porque durante muito tempo da minha vida eu também fui cega.
Mas lamento profundamente por não conseguir interagir de forma mais autêntica com tais pessoas, pois quem ainda não foi iluminado pela Luz, age de forma a desqualificar aquele que vê o Invisível.

quarta-feira, 6 de março de 2013

O Presente Precioso


Eu duvidava que Você existia
Esperava algo sobrenatural
E não enxergava o sobrenatural em minha própria vida
Você sussurrava em meus ouvidos,
eu estava surda para o seu amor
Eu só conhecia tristeza e maldade
Era prisioneira da mágoa
carregava o peso da solidão
e sentia o gosto amargo da rejeição
Nem a Morte me queria
Um dia já cansada de tanto lutar
clamei a Ti, me humilhei,
Senti Sua mão tocando minha alma
o Senhor arrancou a rebeldia que me machucava
lavou meu coração e me deu uma nova história pra viver
eu andava perdida, sem destino algum
Pensando que ninguém mais se importava... escrevia
“As Letras” era meu grito mudo de socorro
E O Senhor lia o meu coração
Deus meu, eu O louvarei por toda a eternidade
Seu Amor me resgatou e ganhei o dom precioso:
 
Fé!


sexta-feira, 1 de março de 2013

Porque escrevo






Escrevo porque foi o que me restou da vida.
Sigo caminhando...
Em tudo o mais...fracassei
Escrever não é uma escolha
As palavras me foram impostas
Primeiro como consolo em meio as dores do mundo
Depois, escrever se tornou o único meio de sublimar as tragédias diárias
Escrevo para reinventar a vida
Escrevo para me reencontrar
Vasculho o mundo e não encontro repouso
Cato palavras ao vento para compor meus versos
Carrego sonhos na mochila, buscando fragmentos invisíveis
Escrevo porque não encontro poesia na rotina
O dia a dia me sufoca
Escrevo para continuar caminhando
A metrópole me sacode
Continuo escrevendo...
Caminhando em meio a solidão coletiva
Reciclo meu choro e meu riso
Escrevo porque não aprendi cálculos, nem compreendi as ciências
O universo me chamou para dançar, mas eu só sei escrever
Escrevo para continuar existindo.