sábado, 3 de dezembro de 2016

Silêncio: bem e mal


Vivemos na era da comunicação, onde todos falam, expõem suas dúvidas e opiniões. O que vejo muitas vezes é na verdade uma comunicação de via única, em que não há troca, uma real comunicação. Todos falam e no fim ninguém comunica nada. Em parte porque cada um está mais interessado em ser a mensagem e não receptor da mensagem. Talvez por isso programas como o “Fala que eu te escuto” está no ar há algum tempo, as pessoas tem necessidade de serem ouvidas de fato, não apenas falar, mas sentir que a mensagem foi bem interpretada pelo receptor.  Pessoas que por algum motivo tem o hábito da escuta: psicólogos, psicanalistas, padres, pastores, voluntários do CVV (Centro de Valorização da Vida), entre outros, conhecem bem a importância do silêncio diante do depoimento de alguém. É preciso atenção, não só dos ouvidos, mas total para perceber o dito e principalmente o não dito.  O silêncio tem dupla face, para as pessoas citadas acima é o alivio de quem precisa desabafar, porém tem seu lado negativo.
Alfred Hitchcock explorou este lado negativo no filme “A Tortura do Silêncio”, em que um padre aparentemente um modelo da piedade religiosa, ouve a confissão de um assassino. As normas da igreja impedem o padre de falar - mesmo que seja em sua própria defesa - quando evidências circunstanciais apontam o padre como o principal suspeito do mesmo crime. Imagine-se na situação do padre, guardar silêncio pode ser uma tortura. Muitas vezes precisei calar para não ferir as pessoas, inclusive as mesmas que me feriram, evitando dizer o que pensava ou sentia.
Muitas vezes usei o silêncio também para ferir, calando-me como forma de punição ao outro. Como é difícil distinguir uma coisa da outra. Hora de calar e hora de falar. Houve momentos que me calei por causa de normas impostas, regras próprias e aprendidas.  Silêncio imposto sempre cobra a dívida, mais cedo ou mais tarde, o que foi engolido, será expelido e pior sem medir os danos.  O silêncio é um grande bem e um grande mal, cabe a nós pedirmos sabedoria para usá-lo.

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