terça-feira, 22 de agosto de 2017

Cegueira ideológica


Era uma vez uma pequena sociedade composta por:
1 petralha
1 coxinha
1 feminista
1 machista
1 antifeminista
1 homem cis homo
1 mulher trans homo
1 nazista
1 fascista
1 bolsominion
1 esquerdopata
1 indiano
1 xenófobo
1 mulher hétero
1 homem hétero
1 crente
1 ateu
1 macumbeiro
1 negro
1 branco
1 pardo
1 racista
1 criança
Será que esqueci alguém?
Eles viviam em constante guerra até o dia em que algo estranho aconteceu.
Uma forte luz sobreveio sobre eles e ficaram cegos por alguns dias, no lugar dos olhos foi se formando uma camada grossa de pele dura, como escamas.
Aos poucos as escamas foram caindo, lentamente uma a uma. Eles foram abrindo seus olhos e então não havia mais nenhum cidadão conhecido.
O número de habitantes era o mesmo, mas estranhamente todos se perguntavam:
“Onde está o nazista?”
“Cadê o crente?”
Até que viram a criança, ainda a mesma, eles a reconheceram.
Mas o que aconteceu com os outros?
Não havia mais o petralha, nem o coxinha, nem o fascista, nem o xenófobo.
Reuniram-se para tentar descobrir o que havia acontecido.
Logo no inicio, um deles falou “Eu era cego, e agora vejo!”.
E todos aplaudiram dizendo: “Eu também, eu também!”.
Alvoroço total durante alguns minutos, Depois voltaram ao questionamento original. Onde estão os antigos habitantes?
Um deles falou: “Eu era ateu e vivia implicando com o crente, mas agora não tem mais com quem implicar”.
Outro respondeu: “Eu sou o crente, achei que o ateu não estava mais aqui.”.
E um a um eles foram se reapresentando: “Eu sou o que foi apelidado de macumbeiro, eu sou aquele que chamavam de nazista”, e assim seguiu até que todos falassem.
E no final, eles perceberam o que tinha acontecido. Cada habitante não enxergava mais o outro conforme conhecia antes, por isso não se reconheciam um ao outro. Cada um sabia quem era, porém não sabia mais quem era o outro antes da Luz.
E mesmo depois da reapresentação, cada um via o outro apenas como um ser humano. A antiga identidade não fazia mais sentido. Tudo parecia novo.
E outra dúvida surgiu: Porque só a criança é a mesma, quer dizer por que só a reconhecemos e os outros não?
A criança era a única que via todos em sua essência: humanos.

Quem tiver ouvidos, ouça.

Nenhum comentário: